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Folia de Santos Reis, Reisado, Companhia de Reis (muitos não gostam do
termo "Folia" por não se tratar de uma brincadeira, mas de um trabalho
sério, de fé e devoção) ou simplesmente Folia de Reis, são cortejos de
caráter religioso que se realizam em vários estados do Brasil. Ocorre
entre o Natal, 25 de dezembro, e a Festa de Reis, 6 de janeiro.
A Folia de Reis é
um auto popular, um teatro do povo. É religioso, sagrado e ao mesmo
tempo folclórico: conta a história oficial da Igreja Católica à luz da
cultura popular tradicional. Por isso é tão rico e cheio de nuances. Trata-se da manifestação popular mais difundida do Brasil e rica em ritos e crenças próprias.
A Folia de Reis
representa a história da viagem dos três Reis Magos à gruta de Belém.
Reproduzindo de forma simbólica essa procissão, os grupos vão de casa em
casa adorar o Menino Deus no presépio ou lapinha.
A
possibilidade de improvisação individual, permite a recriação
constante do ritual e quando estas criações individuais são aceitas
pelo coletivo passam a ser incorporadas ao repertório das tradições
desta comunidade, deste coletivo. Por isso, cada folia tem sua tradição
de acordo com a região, os ensinamentos que são passados de geração em
geração ou mesmo da forma de entendimento do mestre ou embaixador, a
pessoa que lidera a folia. Ver Personagens.
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Folia de Reis chegou ao Brasil com os portugueses, na era colonial.
Aqui, espalhou-se por todas as regiões brasileiras, tanto nos pequenos
povoados, como nas grandes cidades.
Câmara Cascudo
("Dicionário do Folclore Brasileiro") diz que no século XVI "inicia-se a
dramatização com canto e dança, recebendo contribuição dos cantos
populares e a produção literária anônima em louvação ao Divino Natal”.
A maioria dos estudos
atribui origem Européia às folias, talvez relacionadas às “Jornadas de
Pastorinhas”, meninas-moças que no período litúrgico do Natal
percorriam as casas pedindo esmolas com finalidade assistências, usando
a música como pedido e agradecimento.
As “Companhias de
Reis” eram inicialmente um revisão camponesa do que as pastorinhas
faziam nas cidades, que mudou com o tempo acrescendo ritos que são
mantidos até hoje. As letras alteraram-se, mas as melodias são as
mesmas, fazendo parte do cancioneiro religioso do catolicismo ibérico.
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As
folias de reis são compostas por um número variado de participantes ou
foliões. Podem aparecer vestindo uniformes, mas de forma geral, vestem
roupas comuns, portando ou não uma echarpe branca em volta do pescoço,
símbolo da pureza do Menino Jesus, de Maria e dos próprios foliões.
Caminham de casa
em casa cantando e portando instrumentos como caixa, viola, violão,
cavaquinho, rebeca, bandolim e sanfona variando sempre de região para
região. As violas e os violões são enfeitados com fitas coloridas que
podem carregar um simbolismo: as amarelas, cor-de-rosa e azuis podem
simbolizar a Virgem Maria, sendo também que a cor-de-rosa tem por
significado os doze apóstolos de Cristo. A fita branca representa o
Divino Espírito Santo.
Os cantos são de "chegada", onde o líder ou embaixador pede permissão ao dono da casa para entrar, "saudação" à lapinha e "despedida",
onde a Folia agradece as doações, a acolhida e se despede. O canto é
tirado em solo pelo folião-mestre. Os outros foliões respondem em coro,
inserindo a "requinta", um agudo bem prolongado. Em
algumas regiões as canções de Reis são por vezes ininteligíveis, dado a
sensação de um "caos sonoro" bem típico.
As danças são parte das folias e feitas normalmente pelos bastiões, palhaços ou alferes e podem ser diversas, conforme a região, como a dança-da-jaca, balanceado, cateretê, do meio dia e outras.
À frente do grupo caminha o bandeireiro ou bandeireira, pessoa responsável por carregar o símbolo que representa a folia: a sua bandeira. A bandeira possui várias configurações diferentes apresentando aspectos da folia que representa.
Feita normalmente
de tecido, é enfeitada com flores de plástico ou de papel e fitas
coloridas, sempre costuradas e nunca amarradas com nó cego ou alfinetes
para, segundo a crença, não “amarrar” a Companhia ou atrapalhar sua
jornada. Em algumas folias, as bandeireiras fazem uma revisão
criteriosa nos enfeites para retirar aqueles que “amarram” a bandeira.
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No corpo da bandeira
são retratados temas variados, sendo os mais correntes a imagem dos
Reis Magos ou da Sagrada Família. A bandeira se enfeita mais quando
populares prendem nela os ex-votos como fotos, fitas ou pequenos
objetos. Estes ex-votos a acompanham por toda a sua jornada ou
peregrinação da folia e, ao término desta, são retirados e jogados em
água corrente ou levados até o Santuário de Aparecida,
na Região do Vale do Paraíba, Estado de São Paulo. Por tradição, não
se pode jogar esses ex-votos em água parada, queimá-los ou guardá-los na
casa dos foliões. Os adereços são sinal de devoção ou de cumprimento de promessa.
Sobre sua origem,
é corrente a história de que, em agradecimento à visita ao Menino
Jesus, os Santos Reis receberam de presente da Virgem Maria, um manto.
Quando se afastaram, já na viagem de retorno ao Oriente, abriram o
manto e viram nele a cena da visitação bordada, com os Santos Reis, a
Sagrada Família, os animais e os pastores. Então, fizeram do manto uma
bandeira e formaram a primeira Companhia de Reis, anunciando ao mundo o
nascimento de Jesus.
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As folias levam suas preces cantadas
às casas dos foliões, porém sua função é precatória, ou seja, angariar
fundos para a festa de 6 de janeiro, ou dia de Santo Reis.
Recebida a esmola, os
foliões agradecem de formas variadas, podendo ser com danças e versos
aos donos da casa. Geralmente, os donos da casa oferecem "pinga" da
boa, café com biscoito ou até jantar.
A extensa seqüência
ritual seguida pelos foliões consiste, basicamente, numa cantoria guiada
pelo embaixador, na qual os foliões cantam diante do dono da casa
pedindo licença para adentrar ou pousar. Entregam a bandeira com a
imagem da Sagrada Família para os anfitriões que os recebe em sua casa.
Cumprem promessas, cantam pedindo bênçãos aos moradores, pedem
ofertas, agradecem os bens ofertados, pedem licença para se retirar da
casa e, então, se preparam para a partida, podendo haver festa e bailes
de encerramento e rito da entrega da doutrina.
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Respeitando as variações de cada lugar, podemos afirmar que, em linhas gerais, cada personagem envolvida no ritual da Folia de Reis exerce uma função.
Ao mestre ou embaixador, conhecido também por folião-guia, folião-mestre, capitão, gerente ou chefe, cabe a função de organizar e manter a coesão do grupo além de ser a voz que inicia as cantorias. É o posto mais alto da hierarquia dentro da Companhia e conhecedor dos fundamentos da folia, responsável pela transmissão dos saberes referentes à origem do grupo. Espera-se dele que conheça as tradições e toadas de Folias de Reis, pois há situações curiosas que exigem um conhecimento específico, como conta o senhor José Coppi, embaixador da Companhia de Sorocaba. Ele conta que houve situações em que a energia ambiental de uma casa era tão negativa que os instrumentos musicais da Folia se desafinavam sozinhos. Quando saiam daquele local os instrumentos voltavam à afinação. A Companhia conseguiu continuar graças aos conhecimentos do embaixador, que cantou uma toada especial para “quebrar” a sintonia daquele negativismo.
Os músicos, cantadores ou foliões são dividido por vozes, como quinta, contra-tala, tala, requinta. Especialistas em seus instrumentos procuram o aperfeiçoamento constante. Em coro, fazem as vozes da cantoria, compondo a toada característica da Companhia. Em outras regiões brasileiras é comum nas Folias a presença de pessoas caracterizadas de Reis Magos como personagens do grupo.
O bandeireiro ou bandeireira é a figura que, à frente da Companhia, conduz o símbolo que legitima o grupo, a bandeira. Sua função é cuidar da bandeira, contando com a proteção dos bastiões.
O festeiro, por sua vez, é a pessoa que se oferece e é escolhida para preparar a festa da chegada da bandeira.
O apontador de prendas anota todas as ofertas recebidas em um caderno.
Porém, o personagem mais curioso e mais intrigante é o “palhaço”, também conhecido como Bastião - corruptela de bastão que carregam e com eles, fazem malabarismos. Pai Juão, Catrina, Mocorongo, Malungo, Alferes, Mateus, Morengo, Pastorinhos são outros dos nomes que estes tão característicos foliões recebem pelo Brasil a fora. Vestidos com roupas coloridas usam máscaras feitas de vários materiais. (ver box: O bastião: guerreiro, palhaço e protetor)
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O bastião: guerreiro, palhaço e protetor
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Os Palhaços são os personagens mais curiosos das Folias de Reis. Sempre mascarados e vestidos com roupas coloridas, seguram em suas mãos a espada ou facão de madeira, com os quais defendem a bandeira. Se houver um encontro de bandeiras o Bastião deve defendê-la, cruzando sua espada com outros Bastiões sem dó! É o Bastião quem recolhe as ofertas, anuncia a chegada da bandeira nas casas, pergunta se o dono da casa aceita a visita, descobre as ofertas escondidas, “quebra os atrapalhos”, utilizando de gestos ou cerimoniais feitos por quem conhece a tradição.
O Cruzeiro de Flores é uma destas tradições muito antigas e que são utilizadas para testar o conhecimento dos Bastões: trata-se de uma cruz montada no chão com flores, em frente à porta de entrada da casa do visitado. Ao deparar com o Cruzeiro, o Bastião, e muitos acreditam que somente ele, deve recitar “profecias”, ou versos secretos.
O cruzeiro é formado por quatro braços. Para cada um deles o Bastião deve recitar uma “profecia” decorada e tradicional. Conforme encerra uma profecia, o Bastião desmancha um dos braços do cruzeiro com a ponta do seu facão, até desfazê-lo ao todo. Somente depois disso é que a Companhia pode adentrar no recinto e cantar as toadas. Ao contrário das toadas cantadas pelo embaixador, que são de improviso, as “palavras” ou “profecias” ditas pelo Bastião são decoradas.
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Há muitas histórias que explicam o surgimento desses personagens. A mais comum é a que eram espias de Herodes que seguiram os Reis Magos para encontrar o Menino Jesus e matá-lo. Porém, ao encontrarem o Menino acabaram se convertendo. Com receio de serem mortos por Herodes, vestiam máscaras e viajavam com os Santos Reis. Iam à frente, fazendo graça e micagens para que Herodes não desconfiasse que eram seus próprios soldados.
Suas máscaras de papel ou couro imitam barbas e a postura de seus corpos invoca sentimentos inusitados, chamando nossa atenção. Na origem, as máscaras são para esconder seus rostos, para que Herodes não os reconhecessem como seus soldados, já que se converteram e tornaram-se protetores do Menino Jesus.
Trata-se de um personagem cômico, que pede as ofertas. É comum no meio rural, fazer o bastião “sofrer” antes de obter uma oferta. Às vezes o dono da casa se esconde e depois o surpreende, trava lutas corporais e agarramento sem nenhuma agressão física. Se o Bastião se sair bem, leva sua recompensa e recebe a oferta. Em outros locais solta-se um porco ensebado para que o Bastião o pegue. Esconder ofertas para que o Bastião procure e encontre é uma prática comum.
É de responsabilidade do Bastião, ainda, não permitir que lhe roubem a máscara ou a espada, afim de que a bandeira não fique “presa”. Para desprender a bandeira, o Bastião (ou o embaixador) deve dizer umas “palavras secretas”. Dizendo-as, a bandeira estará livre para prosseguir sua jornada.
Portanto além de curiosos, são intrigantes, sagrados e guerreiros, responsáveis pela proteção da bandeira e da folia.
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