Tipos de Viola
Dos tipos de violas
conhecidos estudaremos os dois encontrados com maior freqüência em nosso Estado:
a viola paulista e a angrense ou do litoral. Nossa pesquisa
cingiu-se apenas ao Estado de São Paulo. Quanto ao litoral paulista, tivemos a
preocupação de estudar a zona litorânea mui ligada ao nosso. Assim sendo, Angra
dos Reis e Parati (Estado do Rio de Janeiro) foram visitados e observados por
causa de suas constantes ligações com Ubatuba e no sul até Paranaguá (Estado do
Paraná) pelas suas relações com Cananéia e romeiros que vêm anualmente até
Iguape.
Dos outros dois tipos
nos referimos a eles pelo fato de termos conhecido em mãos de migrantes de
Estados de Goiás (um baiano que lá morou) e de um boiadeiro matogrossense, que
nos facilitou um exame detido em sua viola cuiabana. Tipo idêntico ficamos
conhecendo no Museu Paulista que seu diretor, Dr. Sérgio Buarque de Holanda,
há pouco trouxe de Cuiabá. Sua caixa sonora é escavada na madeira, e a tampa de
trás é colada com cola vegetal.
Em nosso estudo
chamaremos de viola paulista àquela encontrada no interior de nosso Estado nos
sítios e fazendas estudados e viola Angrense, ou melhor, do litoral, àquela
encontrada no litoral paulista e cidades do vale do Ribeira. Será melhor
chamarmos de viola do litoral, porque em novembro de 1947, estivemos em Angra
dos Reis e constatamos que com o falecimento de antigo fabricante das afamadas
violas angrenses, não há mais quem as fabrique naquela cidade sul-fluminense.
Ficou no entanto, o tipo. E no sul do Estado, em Cananéia, no bairro de Guaxixi,
encontramos um fabricante, cujas violas são absolutamente do tipo angrense, já
nosso conhecido. Os dois tipos de viola: paulista e do litoral, que pertenciam à
nossa coleção de instrumentos de música, hoje figuram na Seção de Folclore
recentemente organizada no Museu Paulista pelo etnólogo Prof. Herbert Baldus.
Vamos tentar
descrever os dois tipos de viola, onde ressaltaremos as diferenças marcantes,
como seja: construção, dimensões, número de cordas e material utilizado para as
cordas.
Tipos de bocas de
violas paulistas,
feitas à mão em Tatuí, SP. |
A viola é um
instrumento cordofônio, em que as cordas comunicam sua vibração ao ar. É feita
de madeira, compõe-se de uma caixa sonora e uma haste que é popularmente chamada
de braço.
Chamaremos de viola
Paulista àquela cuja espessura de caixa de ressonância não excede de 7
centímetros, usa dez cordas, ou melhor, cinco cordas duplas, elementos
característicos encontrados nos municípios estudados.
Os informe sobre a
construção da viola, nome das peças, madeiras empregadas e afinações foram dados
pelo Sr. Zico Brasiliano Brandão. O informante é caboclo, natural de
Tatuí. tem 37 anos de idade e a sua profissão é fabricante de viola e
consertador de máquinas de costura. Dentre os 818 violeiros entrevistados com
suas violas, desde 1935 até a presente data, este fabricante de violas é o que
maior número de afinações conhece, sendo um ótimo violeiro. Seu pai foi
fabricante de violas e um dos mais afamados violeiros e cururueiros do sul do
Estado. Contou-nos seu filho que ele conhecia cerca de 25 afinações. Seu filho
não apenas herdou "a veia artística", mas também é o seu continuador na
fabricação do instrumento. Sua fabriqueta nada mais tem do que uma banca de
carpinteiro, as formas para colar os aros e as ferramentas, destacando-se um bom
canivete. Fabrica violas de encomenda, conserta instrumentos de corda, e quando
tem um bom número de violas prontas, faz viagens para Apiaí, ltararé, Estrada
Mayrink-Santos, Botucatu, Avaré, Itapetininga, vendendo os seus instrumentos.
Afirma ser bem recebido em todas os lugares onde vai, nunca tendo despesas
porque as pessoas do sítio fazem questão de hospedá-lo a fim de que os alegre
com suas musicas.
Nas suas viagens,
Zico sempre leva sua viola de 14 cordas, cuja caixa de ressonância é feita com a
carcaça de tatu, o que provoca admiração dos caboclos. Volta depois de ter
vendido todos os seus instrumentos. No Estado do Paraná, são muito conhecidas as
afamadas violas de Tatuí.
Zico Brandão, o
"Rei da Viola" de Tatuí.
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As grandes fábricas
de instrumentos da Capital Bandeirante também fabricam violas, havendo o tipo "standard",
bem acabadas e bonitas, estreitas, mas não gozam da preferência de nosso
caboclo. A industrializada, "standard" é pequena, caixa estreita. A que serve
para as exibições nos palcos e rádio, são do tamanho de violões, sendo que a
disposição dos trastos é diferente, geralmente estas violas são de cedro ou
jacarandá da Bahia.
A viola paulista tem
tamanhos diferentes, porém, guardando sempre uma espessura pequena de caixa, em
contraste com a do litoral que tem uma caixa muito larga, igual a largura do
violão. Zico Brasiliano Brandão, mostrou-nos as formas dizendo serem 8 tamanhos
distintos.
O fabricante de
violas de Santa Isabel, sr. Lourenço Marques, disse-nos só fazer 3 tipos:
pequeno, médio e grande, embora saiba que há intermediários entre esses
tamanhos.
Em Piracicaba
existiam alguns fabricantes de violas. Nessa "Capital do Cururu" o tipo de viola
preferido foi o "mochinho". Juca Violeiro fabricou muitas violas Os
melhores "môchos" que conhecemos são de sua lavra. José Barbosa, "modinheiro"
dos melhores, é um fabricante de violas. Recentemente inventou fazer a caixa
sonora de suas violas de latão. No "Centro de Folclore de Piracicaba" tivemos
oportunidade de examinar um exemplar. Afina muito bem, porém, o som é metálico.
Alguns cururueiros afirmaram que é muito alta sua afinação, o que os dificulta e
cansa cantar a noite toda com tal instrumento.
O tamanho número um,
conhecido por Machete ou Machetinho, é o menor, 4 cordas e geralmente
usado pelas crianças. Afirma o sr. Zico que antigamente fazia muitos "machetinhos",
hoje, porém, depois que apareceu o cavaquinho industrializado, não há mais
encomendas.
Compramos para nossa
coleção um machetinho no mercado municipal de Paraibuna. O sr. Juvêncio de
Sales fabrica, usando canivete, barbante para enformar e cola vegetal. Os
furos para cravelha são feitos a fogo. A madeira usada é a "criuvinha".
A viola de tamanho
número dois, pouco maior do que o "machetinho", também não tem saída, somente
quando uma moça quer ser violeira é que encomenda.
Um duo genuinamente
roceiro
(Sertanejo e
Sertaneja)
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As de número 3 e 4
raríssimamente feitos em Tatuí são os "Mochinhos". São muito procuradas
em Piracicaba pelos seus cururueiros. Alguns exemplares desses mochinhos figuram
na rica coleção de violas do "Centro de Folclore de Piracicaba", por iniciativa
de seu secretário executivo, Prof. João Chiarini.
A de número cinco ou
média é a mais procurada, portanto, são as mais comuns, assim afirmou o sr. Zico
Brandão, de Tatui e o mesmo disse o sr. Lourenço Marques, de Santa Isabel.
A viola de tamanho
número 6 é bastante procurada pelos violeiros pretos. Afirma sr. Zico Brandão:
quando vejo um preto me procurar para "apissui" uma viola, já nem mostro
as pequenas, já sei e logo vou dando deste tamanho".
As de número 7,
geralmente, são para 12 cordas. O entrevistado afirmou: só baiano é que gosta
delas". Para os nossos caboclos, qualquer nortista que fale arrastado do "x" é
baiano.
A de número 8 é a
maior de todas, tendo um metro de comprimento.
Sendo a viola média,
de número 5 a mais comum, vamos dar as suas dimensões: 75 centímetros de
comprimento. Caixa de ressonância, 35 centímetros, braço 20 centímetros e
palheta 20 centímetros. A altura da caixa de ressonância, 5,5 centímetros
próximo ao braço e 6,5 noutra extremidade. Boca, 5,5 centímetros de diâmetro.
Fonte:
http://www.casadosvioleiros.com/
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